O Instituto Escolhas lançou o estudo ‘Ouro em choque: medidas que abalaram o mercado’, segundo o qual as ações adotadas pelo Brasil, em 2023, para controlar o comércio de ouro e combater a extração ilegal do metal, surtiram efeito. O levantamento aponta que a produção de ouro registrada pelos garimpos despencou 84%. Dentre as medidas mais positivas e com efeitos imediatos estão a obrigatoriedade de notas fiscais eletrônicas e o fim do pressuposto da boa-fé, ambas voltadas para as transações com o ouro do garimpo.
Para efeito de comparação, em 2022 os garimpos registraram uma produção de 31 toneladas de ouro. Em 2023, logo após as mudanças, o volume caiu para 17 toneladas (redução de 45%) e nos sete primeiros meses deste ano, o volume de produção dos garimpos já é 84% menor do que o registrado no mesmo período em 2022. Mais de 70% da queda na produção de ouro dos garimpos em 2023 foi registrada no Pará. Entre janeiro e julho de 2024, o recuo na produção garimpeira do estado já é de 98% em comparação com o mesmo período de 2022. As medidas adotadas também surtiram efeito nas exportações brasileiras de ouro. Em 2023, elas caíram 29% e, entre janeiro e julho de 2024, o volume exportado foi 35% inferior ao registrado no mesmo período em 2022.
No último ano, São Paulo registrou o maior declínio nas exportações de ouro, mesmo não sendo um estado produtor do metal. São Paulo escoa o ouro de garimpos na Amazônia – e Mato Grosso – onde predomina a extração por garimpos. Em relação ao destino, o destaque ficou para a queda nas vendas externas para Índia, Emirados Árabes Unidos e Bélgica, que, juntos, deixaram de comprar 18 toneladas de ouro, principalmente de São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Distrito Federal. “Com a adoção de medidas de controle onde, sabidamente, há indícios de ilegalidade, o mercado encolheu mesmo com o alto preço do ouro. Isso significa que portas foram fechadas para o ouro ilegal. Se, antes, o metal era facilmente ‘esquentado’ e exportado como ‘legal’, agora a história mudou e aumentaram os custos e o risco das operações ilícitas”, afirma Larissa Rodrigues, diretora de pesquisa do Instituto Escolhas.
Segundo Larissa, apesar de importantes, esses são apenas os primeiros passos. “Combater a extração ilegal deve ser uma prioridade, porque ela provoca danos ambientais e sociais enormes e de difícil reversão”, ressalta. Entre os próximos passos sugeridos pelo estudo do Instituto Escolhas está a obrigatoriedade da transformação das operações garimpeiras que atingem determinado patamar de valor de produção em empresas de mineração, o que permitiria melhores condições para lidar adequadamente com as obrigações sociais e ambientais.
Respondendo por mais de 90% do valor da produção mineral brasileira e de 93% de recolhimento da CFEM (Contribuição Financeira pela Exploração Mineral), as 200 Maiores Empresas do Setor Mineral, que compõem o tradicional ranking exclusivo de Brasil Mineral, destacam-se na produção de calcário e gipsita (60 empresas), minério de ferro (40), Agregados (19), ouro (19), carvão (9), bauxita (6), estanho (6), fosfato (6), rochas ornamentais (4) e níquel (3)
Fica patente, no ranking, a grande predom inância dos produtores de calcário, dos quais houve uma proliferação nos anos recentes, após a intensificação do uso do calcário na agricultura, principalmente na região Centro-Oeste, onde ocorreu e ainda está ocorrendo uma grande expansão da fronteira agrícola. Embora neste caso a lista seja liderada pelas cimenteiras, em função do grande volume que produzem, também estão no topo produtores de calcário agrícola.
O segundo segmento com maior número de empresas entre as 200 Maiores é o do minério de ferro, a grande maioria atuando no estado de Minas Gerais. O grande destaque, por óbvio, é a Vale, que ainda se mantém na liderança da produção de minério de ferro não apenas no Brasil, mas globalmente, apesar do aumento de capacidade dos australianos. Aliás, a Vale, sozinha, respondeu por mais de 53% do recolhimento de CFEM em 2023. Somando-se a participação da Salobo Metais (controlada pela Vale Base Metals) e da Samarco (onde detém 50%), a participação da Vale sobe para cerca de 56%. Os outros destaques no minério de ferro são a Anglo American e CSN Mineração. Desponta também no ranking a LHG Mining, do grupo J&F, que programou pesados investimentos para se tornar um produtor de ferro e manganês relevante com depósitos que adquiriu da Vale. Nos próximos anos, a perspectiva é que a participação do minério de ferro no ranking aumente, com a entrada de novos players.
O segmento do ouro, com 19 empresas no ranking, é o terceiro mais importante. Liderada há vários anos pela Kinross, seguida pela AngloGold Ashanti, a produção de ouro passou a contar, no período recente, com empresas de médio porte, sobretudo aquelas listadas em bolsas no exterior, que lavram depósitos menores, com escalas de produção médias e vida útil não muito longa. Fazem parte desta lista empresas controladas pela Equinox Gold, Aura Minerals e Panamerican Silver. Brevemente a lista será ampliada, com o ingresso de empresas como a GMining e Hochschild, cujos projetos estão entrando em produção.
Já o setor de Agregados, com 19 empresas, não tem apresentado muita diversificação em termos do ingresso de novos players. Este é um segmento caracterizado por empresas de médio porte, com algumas exceções, já que os grandes grupos, que haviam ingressado na produção brasileira alguns anos atrás, estão deixando o setor ou se retraindo. É o caso do grupo Votorantim, que decidiu se concentrar no cimento e da LafargeHolcim, que foi vendida para a CSN Cimentos, que não deve atuar forte na produção de Agregados.
Uma novidade no ranking é a maior participação de produtores de lítio, que entrou na lista dos bens minerais mais produzidos no País em termos de valor. Companhias como a Sigma Lithium entraram pela primeira vez no ranking. A AMG Brasil que produz desde 2018, começou a operar este ano a expansão de sua planta de carbonato de lítio e deve ampliar sua participação no ranking a partir do próximo ano. Deve haver uma ampliação no número de players nos próximos anos, levando-se em conta as empresas que estão com projetos novos no segmento.
Outro segmento que deve ampliar o rol de produtores é o de grafita, que atualmente conta com uma única empresa. Há pelo menos dois projetos em implantação, que deverão entrar em produção nos próximos anos, o que significa novos players.
Também deverão passar a fazer parte do ranking, no futuro próximo, produtores de minerais como terras raras, das quais já existe um projeto em produção no Brasil e vários outros em estágios diferenciados, que vão da exploração mineral ao licenciamento para implantação.
Um aspecto que chama atenção no ranking é a existência de vários bens minerais nos quais existem apenas um ou dois players atuando, como é o caso do caulim, fluorita, ilmenita, manganês, vanádio, vermiculita e zinco. A conclusão a que chegamos é que ou não existem no País outros depósitos atrativos desses bens minerais, ou são mercados em que os produtores atuais têm tradição e controle de mercado, desmotivando a entrada de novos players.
De toda maneira, o ranking mostra que tem havido, sobretudo ao longo das últimas décadas, uma diversificação dos players que atuam na mineração brasileira, que deve se acentuar, o que é algo considerado como bastante positivo.
Veja a matéria completa e tabelas na edição 441 de Brasil Mineral
A edição 2024 da EXPOSIBRAM registrou recorde de participantes (expositores e congressistas), de visitantes, de área ocupada e de negócios firmados. Para Raul Jungmann, diretor-presidente do IBRAM, “os números mostram um ambiente salutar de negócios para os próximos anos tanto para as mineradoras quanto para a extensa cadeia de fornecedores a elas conectados”. No último dia da EXPOSIBRAM – Mineração do Brasil | Expo & Congresso, Raul Jungmann, apresentou um balanço do evento.
O congresso contou com mais de 600 horas de conteúdo, 2.300 congressistas e 320 palestrantes e detalhou cenários sobre os negócios e a expansão da mineração ao abordar temas como a importância dos minerais para a transição energética; A relação entre mineração e segurança mineral, segurança energética, segurança alimentar e segurança hídrica; Mecanismos de financiamento para o setor mineral; Aperfeiçoamento da legislação mineral; Geopolítica para a mineração e as tendências em sustentabilidade e litigância climática e Agenda ESG da Mineração do Brasil, conjunto de compromissos setoriais com a sustentabilidade e a segurança dessa indústria. O evento proporcionou uma plataforma abrangente para a discussão e análise dos desafios e oportunidades para a mineração no Brasil e globalmente, segundo os organizadores.
Já a feira da EXPOSIBRAM 2024 recebeu mais de 75 mil visitantes durantes os 4 dias de evento e superou as expectativas iniciais (70 mil). Foram montados mais de 600 estandes, em 15 mil m², de diversos países, como Brasil, Itália, Estados Unidos, China, Canadá, Alemanha, Chile, Irlanda, Holanda, Inglaterra e Peru. A edição 2024 apresentou também o inédito MineraMundo, espaço inovador e projetado para explorar o universo da mineração de forma interativa e envolvente, com um foco especial no público estudantil. A atração teve a participação de 15 escolas e recebeu mais de 10 mil visitantes.
A EXPOSIBRAM 2024 facilitou também a aproximação entre mais de 25 mineradoras e 460 fornecedores, nacionais e internacionais, proporcionando um espaço para discussões comerciais e fechamento de contratos. As rodadas de negócios reuniram destacadas marcas do setor, como AngloGold Ashanti, Anglo American, Brazauro Recursos Minerais, Companhia Brasileira de Lítio, Fronteira Mineração, Galvani Fertilizantes, Gerdau, Grupo Avante, Jaguar Mining, Kinross Brasil Mineração, Mineração Maracá / Lundin Mining, Mineração Rio do Norte, Mineração Taboca, Mineração Usiminas, Mosaic, Nexa Resources, Samarco Mineração e Vale.
A GoldMining Inc. anunciou os resultados finais do ensaio do programa de perfuração de diamante e uma atualização do progresso do programa de perfuração de trado em andamento, no Projeto São Jorge, no distrito de ouro de Tapajós, estado do Pará.
As duas perfurações mais recentes identificaram com sucesso novas mineralizações de ouro e cobre aproximadamente 1 quilômetro a noroeste do depósito de ouro de São Jorge em áreas que não tiveram perfuração anterior.
O programa de perfuração a trado raso em andamento retornou indicações muito encorajadoras de novas zonas de mineralização primária de ouro no alvo William South, localizado aproximadamente 2 km ao norte do depósito São Jorge. Vários furos de perfuração de trado forneceram interceptações de alto teor dentro do topo do leito rochoso intemperizado, diretamente subjacentes a grandes anomalias de solo de superfície de alto teor.
Alastair Still , CEO da GoldMining, comentou: "O programa de exploração em São Jorge concluído até o momento avançou significativamente nosso conhecimento geológico no distrito de São Jorge, incluindo uma melhor definição do núcleo de alto teor do depósito. O recente programa de perfuração de núcleo de avanço identificou mineralização a aproximadamente 1 km de distância do recurso mineral existente em uma área sem perfuração anterior. Além disso, nossa equipe reuniu evidências interessantes para potenciais corredores adicionais de mineralização na propriedade de escala regional, que foram diligentemente identificados por meio de amostragem de ouro no solo e agora foram confirmados por meio de perfuração de trado."
Tim Smith, vice-presidente de exploração da GoldMining, comentou: "Para complementar a mineralização de ouro encorajadora interceptada na perfuração de núcleo e trado, o furo de perfuração SJD-124-24 interceptou uma ampla zona de cobre fortemente anômalo, o que é encorajador, pois o distrito de Tapajós é conhecido por conter cobre do tipo pórfiro +/- mineralização de ouro. Além disso, a mineralização de ouro interceptada em SJD-123-24 é consistente com nossa tese de um extenso corredor de alta tensão que poderia hospedar mineralização de ouro adicional a noroeste e sudeste ao longo do ataque do depósito como um componente de um sistema mineral aurífero de escala regional."
A companhia iniciou a perfuração em São Jorge em maio de 2024. Os objetivos do programa incluíam perfuração confirmatória dentro e perto das margens do depósito de ouro existente em São Jorge, bem como perfuração exploratória de alvos de ouro identificados dentro de 1-2 km de mineralização conhecida em áreas sem perfuração anterior.
A perfuração contínua com trado, focada em uma área localizada aproximadamente 2 km ao norte do depósito de São Jorge para dar continuidade à grande anomalia de ouro no solo de alto teor ' William South' , retornou indicações muito encorajadoras de mineralização primária de ouro no leito rochoso, o que destaca que a grande propriedade em escala regional tem potencial para hospedar corredores adicionais de mineralização que podem ser testados posteriormente por perfuração de testemunho.
São Jorge fica dentro do ativo e em rápido desenvolvimento Distrito de Ouro de Tapajós, que estima-se ter produzido mais de 20 milhões de onças de ouro historicamente a partir da mineração artesanal de depósitos de superfície, de acordo com a Agência Nacional de Mineração do Brasil. O Tapajós abriga a Mina subterrânea de alto teor Palito da Serabi Gold Plc. e a novíssima Mina de Ouro Tocantinzinho da G Mining Ventures Corp., que recentemente declarou produção comercial.
São Jorge está localizado imediatamente adjacente à rodovia pavimentada BR-163 e a um novo corredor de linha de energia de 138 kV, que se conecta à rede elétrica distrital recentemente construída para a Mina de Ouro Tocantinzinho. As atividades de exploração em São Jorge são operadas a partir de um acampamento permanente próximo ao depósito existente e a apenas 3 km da rodovia.
Um programa de perfuração de trado mecânico compreendendo um programa inicial de 3.000 metros para aproximadamente 200 furos está em andamento no projeto. O programa de trado está inicialmente mirando a área de alta prioridade William South, localizada aproximadamente 2 km ao norte do depósito de São Jorge. William South compreende uma ampla zona de alto teor de ouro anômalo no solo, medindo aproximadamente 2 km x 2 km com ensaios de solo atingindo o pico de 2.163 ppb Au (2,163 g/t Au).
Até o momento, ensaios foram recebidos para 101 furos concluídos no alvo William South. Dos resultados iniciais da perfuração, aproximadamente 25% de todos os furos retornaram resultados de ensaio maiores que 100 ppb (0,1 g/t) Au, confirmando a presença de mineralização de ouro em leito rochoso intemperizado.
A perfuração de trado em William South até o momento retornou indicações muito encorajadoras de mineralização primária de ouro no leito rochoso, o que confirma uma fonte in situ da anomalia de ouro no solo e incentiva a aplicação mais ampla da perfuração de trado — um teste geoquímico subterrâneo barato e rápido — em outras anomalias de ouro no solo dentro do projeto. Além disso, a confirmação de uma fonte de ouro no leito rochoso abaixo da anomalia do solo William South sugere que o projeto de grande escala regional tem potencial para hospedar corredores adicionais de mineralização que podem ser testados ainda mais por métodos de perfuração de RC ou núcleo mais profundos para definir novas descobertas de ouro no leito rochoso.
O IBRAM lançou, durante a EXPOSIBRAM 2024, a primeira edição do Guia de Eficiência Energética IBRAM. A publicação visa consolidar a agenda ESG da Mineração do Brasil, com base na sustentabilidade, na segurança, na responsabilidade e na ética das operações minerais. O guia já está disponível no site do IBRAM.
A publicação destaca o eixo energia e a gerente de Assuntos Minerários do IBRAM, Aline Leite Nunes, destacou os caminhos tomados para a construção do guia. “Nos últimos anos, o clima sofreu mudanças relacionadas a eventos da própria natureza. Por isso, temos que nos tornar resistentes. Mas como fazer isso? A eficiência energética é um dos caminhos. Para a construção desse plano, pensou-se em como promover a eficiência energética. Portanto, a construção do guia visa levar para as pequenas, médias e grandes empresas de mineração essas soluções”, afirmou, acrescentando que o processo para a elaboração do Guia contou com apoio da Grid Energia.
O guia apresenta uma série de melhorias dos processos produtivos e da eficiência de equipamentos, além de incentivar a adoção de práticas e tecnologias inovadoras, fortalecendo o compromisso com a sustentabilidade ambiental, social e econômica. “Procuramos ter uma visão de um voo de helicóptero da eficiência energética no Brasil. Depois, descemos e observamos a eficiência energética na mineração. Temos também conceitos, gestão de rotina, diagnósticos energéticos, medição e verificação, que são muito importantes para obtenção de resultado”, comentou o consultor sênior para Eficiência e Transição Energética da Grid Energia, Sergio Grassi Ferreira Marques.
“Depois da visão de helicóptero sobre cenários de mineração, o guia traz um contexto geral sobre projetos. E uma coisa muito importante de destacar é que ele apresenta a parte técnica, mas também a social, porque não é somente para engenheiros, mas para todos. Também optamos por colocar no guia três cases relacionado à cultura da empresa, energia elétrica e transporte”, afirma o mestre em engenharia, Sérgio Ricardo Dieguez Couto, especialista no PEE da ANEEL.
Já o diretor Executivo da Grid Energia e professor da Fundação Dom Cabral, Stefano Angioletti, ressaltou o fato de o guia ser acessível para todos. “Este é um guia de celular, porque é para não sair da nossa mão. A eficiência energética não é um caminho fácil, mas tivemos o compromisso de que todos possam acessá-lo. É o início de um trabalho sobre todos os planos do Brasil, ele serve de apoio para conseguirmos nos desenvolver”, concluiu.
Para atender à demanda do mercado de veículos elétricos e híbridos, o Brasil terá que instalar uma fábrica de baterias que, em razão do seu custo – da ordem de bilhões de dólares – deverá ser implantada por um pool de empresas ou por uma companhia que tenha suporte dos fabricantes de veículos. Foi o que propôs o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio de Lima Leite, durante painel na Exposibram 2024 que discutiu as Demandas da Indústria Automobilística para a Mineração.
O painel contou também com a participação de João Irineu Medeiros (vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stelantis), Wilson Ragusa (gerente de Vendas Especiais na Volkswagen Caminhões), Amanda Machado (diretora de Mineração, Novos Negócios e Licitações na XCMG), que atuaram sob a moderação de Márcio Goto (gerente regional da Project Blue).
Na visão do dirigente da Anfavea, não existe demanda para várias fábricas de baterias no País e nem faz sentido, em função do alto custo para se implantar uma unidade.
Segundo Márcio Goto, ficou claro durante o painel que a questão da demanda de minerais que são considerados essenciais para a eletrificação de veículos, como lítio, terras raras e outros, é algo sobre o qual não se tem ainda muita certeza. Há várias projeções, mas nenhuma certeza quanto aos quantitativos e os prazos em que essa demanda vai se acirrar.
No caso do Brasil, existe ainda dúvida se o veículo elétrico vai realmente se massificar, tendo em vista a disponibilidade de etanol, que é considerada uma matriz energética renovável e tem pouco peso nas emissões de carbono. Em razão disso, a aposta de alguns fabricantes é de que o Brasil deve adotar mais o modelo híbrido.
Na visão dos painelistas, segundo Márcio Goto, não existe nenhum esforço por parte do governo ou de uma associação da cadeia produtiva para se ter uma fábrica de baterias no Brasil e, portanto, não se completa a cadeia. O País pode produzir lítio, grafita, cobalto, níquel, manganês, mas o consumidor intermediário, que é o fabricante de baterias, fica na China, nos EUA ou na Europa.
“Então, no fim o Brasil acaba tendo que exportar a matéria prima e depois importar a célula ou a própria bateria”, diz o moderador do painel, observando, no entanto, que existem conversas entre a XCMG e a BYD sobre a possibilidade de se ter uma fábrica de baterias por aqui. Mas para isso precisa haver também produção local dos produtos intermediários que são usados na produção da célula. Neste sentido, ele aponta que a CBMM avançou na produção do óxido de nióbio, a CBL já produz carbonato de lítio há algum tempo – ainda que em pequena escala – mas ainda há muito por se fazer nesse sentido.
Márcio Goto também aponta que, em se tratando de indústria automobilística, é muito difícil o desenvolvimento sem que haja incentivos por parte do governo, como ocorre no mundo inteiro. “E isto é justificável, porque é uma indústria de cadeia comprida e até certo ponto estratégica, já que é interessante se ter montadoras de veículos elétricos dentro do próprio país, como ocorre com os veículos a combustão”, diz ele.
No segundo dia da EXPOSIBRAM 2024 ocorreu o painel “Segurança Mineral, Segurança Energética, Segurança Alimentar e Segurança Hídrica” entre empresários, especialistas e o diretor-presidente do IBRAM, Raul Jungmann, para debater a segurança mineral no Brasil, uma vez que o País tem uma oferta perene de minérios de modo a atender as projeções de crescimento de demanda. A oferta de minérios é primordial para desenvolver tecnologias e equipamentos para a criação de novas fontes de energia renovável, para proporcionar a transição a uma economia de baixo carbono e aumentar a produtividade agrícola, por meio dos minérios utilizados na composição de fertilizantes, caso do potássio e do fosfato. Com os efeitos positivos da descarbonização, que começa com os minérios, a projeção é que as crises climática e hídrica, que afetam o Brasil e o mundo, possam ser amenizadas.
Segundo Jungmann é primordial aumentar a produção de minérios críticos e estratégicos para a transição energética e para a produção de fertilizantes. “O setor financeiro, segundo dados da Febraban, direciona apenas 0,9% dos R$ 2,1 trilhões que aporta na iniciativa privada do País. Só que a mineração é um dos setores econômicos mais importantes, responde por mais de 30% do saldo da balança comercial, atrai investimentos bilionários para o país e arrecada muitos tributos. Não me parece equilibrada esta relação”, avaliou. A ex-senadora e ex-ministra Kátia Abreu defende que o Estado brasileiro adote estratégias para expandir a mineração, similares às implantadas na década de 1970, voltadas a tornar o país autossuficiente na produção de alimentos. Até então, o Brasil era muito dependente da importação de vários produtos alimentares, como arroz e feijão, lembrou. Também participaram do painel Ana Carolina Argolo, diretora da Agência Nacional de Águas, Karina Gistenlic, presidente das Operações de Potássio da mineradora BHP e David Zylbersztajn, integrante do Instituto de Energia – PUC Rio e executivo na DZ Negócios com Energia.
Para Karina Gistenlic, da BHP, o Brasil tem reservas que podem torná-lo autossuficiente na produção de potássio e fosfato, além de nitratos. Mas encontra diversos obstáculos, como falta de segurança jurídica, morosidade e burocracia excessivas para licenciamentos ambientais de projetos, enquanto David Zylbersztajn disse que a indústria da mineração brasileira tem oportunidade de expandir a produção visando o desenvolvimento de armazenamento de energia, via baterias, por exemplo, já que o esperado crescimento da demanda por energia irá exigir este estoque, o que depende essencialmente da oferta de minerais críticos e estratégicos, como níquel, lítio, nióbio, entre outros.
Em 2023, por exemplo, o Estado respondeu por 41,7% do valor total da produção mineral brasileira
Apesar de esporadicamente alternar posição com o estado do Pará, Minas Gerais se mantém no topo entre os estados que lideram a produção mineral no País. Em 2023, por exemplo, o Estado respondeu por 41,7% do valor total da produção mineral brasileira, aportando R$ 103,6 bilhões dos R$ 248,2 bilhões produzidos.
Embora essa posição de liderança deva-se principalmente ao minério de ferro, do qual o estado é o mais tradicional produtor, a participação de outros minerais ou metais como ouro, lítio – do qual Minas ainda é o único produtor no País – e nióbio torna-se cada vez mais relevante. Isto quer dizer que Minas Gerais tem uma cesta mineral mais diversificada do que o estado do Pará, seu principal competidor na posição de liderança. Além dos minerais mencionados acima, Minas Gerais também se destaca na produção de fosfato, bauxita, grafita, rochas ornamentais e outros.
Se por um lado a grande predominância do minério de ferro tem impulsionado o setor mineral de Minas Gerais, por outro tem gerado muitos problemas. Além dos acidentes mais recentes, como Mariana e Brumadinho, a mineração de ferro está cada vez mais próxima dos conglomerados urbanos, gerando conflitos de convivência da atividade com as populações e dificultando o licenciamento de novos empreendimentos. Mesmo assim, a produção de minério de ferro no Estado continua e vai seguir crescendo, tendo em vista os investimentos que estão programados pelas empresas. Levantamento do IBRAM indica que, de um total de US$ 64,5 bilhões de investimentos previstos para o período 2024-2028, nada menos que US$ 17,23 bilhões (ou 30,6%) deverão ser investidos em projetos de mineração (incluindo logística e projetos socioambientais) no território mineiro. E, desse montante, uma boa parcela será destinada a projetos de minério de ferro. A diferença é que, embora a maioria dos projetos seja de crescimento da produção, muitos envolvem a mudança de processos para evitar a disposição de rejeitos em barragens e a descaracterização de estruturas que foram desativadas, por imposição legal.
Depois do minério de ferro, o segmento que mais deve registrar crescimento em Minas Gerais deve ser o lítio e as terras raras, ou seja, aqueles minerais que são considerados essenciais para que se consiga realizar a transição energética e fazer frente às mudanças climáticas. Atualmente, no território mineiro, há uma verdadeira corrida visando à descoberta e ampliação das reservas de mineral de lítio e de terras raras, com um número de requerimentos de pesquisa nunca visto antes. De acordo com levantamento da agência Invest Minas, em apenas um ano o número de requerimentos de pesquisa para lítio pulou de aproximadamente 500 para 1.700. Ou seja, mais do que triplicou. Nas terras raras, além de projetos que estão em vias de iniciar a implantação, como o da Meteoric Resources, há outros em fase de exploração mineral, com boas perspectivas de saírem do papel nos próximos anos.
Em termos de empresas, Minas Gerais abriga os principais produtores de minério de ferro, os dois maiores produtores de ouro (Kinross, AngloGold Ashanti), o principal produtor de nióbio (CBMM), o único produtor de grafita, os atuais produtores de lítio (AMG, CBL, Sigma) e o principal produtor brasileiro de zinco.
Veja a entrevista completa na edição 442 de Brasil Mineral
A Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (EXPOSIBRAM 2024) será realizada entre os dias 9 e 12 de setembro e terá mais de 500 expositores e cinco palcos simultâneos para apresentar tendências do setor mineral. A expectativa é receber mais de 70 mil pessoas nos quatro dias de evento e dois mil congressistas em cerca de 15.000 m², na Expominas, localizada na Av. Amazonas, 6200, Gameleira, Belo Horizonte (MG). Além do Brasil, a Exposibram terá estandes da Itália, Estados Unidos, China, Canadá, Alemanha, Chile, Irlanda, Holanda, Inglaterra e Peru.
O Congresso Brasileiro de Mineração, que integra a programação do evento, abrirá espaço nobre para apresentações e debates sobre a indústria da mineração. “Teremos a oportunidade de cobrir um leque expressivo de temas. Isso contribui para a criação de um evento mais dinâmico, com maiores oportunidades para empresários do setor, estudiosos e outros públicos”, disse Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). Dentre os vários temas, o papel da oferta de minerais para a transição energética e a tributação do setor, além de formas de financiamento de projetos minerais, agenda econômica, perspectivas de mercado, riscos tributários e fiscais, riscos políticos e outros assuntos sensíveis ao setor. A inscrição do Congresso pode ser feita pelo https://www.hbatools.com.br/exposibram-2024__1599.
A EXPOSIBRAM apresentará o espaço inédito Mineramundo, ambiente inovador projetado para apresentar o universo da mineração de maneira interativa e envolvente com foco no público estudantil. No local, os visitantes poderão aprender mais sobre mineração, de forma interativa, por meio de telas touch, quiz, um trem cenográfico que oferece uma viagem pela história dos minerais, além de experiências imersivas com óculos de realidade virtual e fones de ouvido, entre outras atividades. Dentre as diferentes atrações, o Mineramundo vai apresentar também a “Casa da Mineração”, um ambiente dedicado para exibir como a mineração está presente, na prática, no dia a dia de todas as pessoas. Será possível identificar, por exemplo, quais os minérios utilizados na fabricação de eletrodomésticos, como geladeira, fogão, televisão, entre outros. Maiores informações e inscrição neste link.
A Aclara Resources Inc. divulgou os resultados da análise econômica preliminar atualizada da empresa (PEA) em seu projeto de argila de adsorção iônica hospedada em regolito, conhecido como Módulo Carina e localizado no Estado de Goiás. O relatório técnico intitulado “Atualização da Avaliação Econômica Preliminar - Projeto de Elemento de Terra Rara Carina – Nova Roma, Goiás, Brasil” foi preparado de acordo com o Instrumento Nacional 43-101 - Padrões de Divulgação para Projetos Minerais pela GE21 Consultoria Mineral.
O documento confirma a estimativa atualizada dos recursos minerais iniciais (MRE) da Aclara para o projeto e não há diferenças materiais nos recursos minerais ou resultados da avaliação econômica preliminar conforme descrito no Relatório e os resultados divulgados no Comunicado à Imprensa de agosto de 2024. “O PEA destaca o notável potencial econômico do Módulo Carina, com um status VPL pós-impostos de US$ 1,5 bilhão com base na previsão de preço do caso base e US$ 2,2 bilhões ao considerar a previsão de preço de incentivo. Esses números ressaltam o status do empreendimento como um ativo de terras raras pesadas de alta qualidade, projetado para fornecer produção anual significativa de disprósio e térbio, representando aproximadamente 13% da produção oficial da China em 2023”, disse Ramón Barua, CEO da Aclara Resources.
Para o executivo, a perspectiva de médio a longo prazo para elementos de terras raras, particularmente terras raras pesadas, permanece forte devido a sua escassez global. “O aumento das regulamentações internacionais está aprimorando o desenvolvimento de cadeias de suprimentos alternativas além da China, e a previsão de preço de incentivo da Argus indica potencial de alta substancial para terras raras em resposta para demanda futura. Nosso foco agora é acelerar o caminho para a produção antecipada. Assinamos recentemente um Memorando de Entendimento com o Estado de Goiás e o Município de Nova Roma como um meio de acelerar o processo de licenciamento e facilitar a rápida implementação do Módulo Carina, com o objetivo de iniciar a produção entre 2027 e 2028”.
Uma análise de sensibilidade foi realizada para avaliar o impacto no VPL por meio da variação do preço da cesta, taxa de desconto, CAPEX, OPEX e taxas de recuperação metalúrgica. A taxa de desconto foi avaliada variando seu valor de 4% a 12%, enquanto os atributos restantes foram avaliados com variações de valores entre de 80% a 120%. O projeto é baseado em técnicas-padrão de extração a céu aberto usando escavadeiras hidráulicas convencionais e caminhões de transporte de carga útil de 44t para extrair e entregar as argilas para a planta de processamento. A planta de processamento foi localizada perto do centro de massa da operação de mineração, para minimizar a distância total de transporte ao longo da vida útil da mina. Dada a natureza friável das argilas e a profundidade rasa das zonas de extração, nenhuma técnica agressiva ou intensiva em energia, como perfuração e detonação, é necessária para extrair as argilas dos poços.
Os recursos minerais do Módulo Carina foram estimados, usando os resultados obtidos de 283 furos de perfuração de trado (2.101 m), 80 furos de circulação reversa (2.003 m) e 3.789 amostras. O Módulo Carina é estimado conter 297,6 milhões de toneladas na categoria de recurso mineral inferido @ 1.452 ppm TREO, contendo um grau médio de Dy e Tb de 39 ppm e 6 ppm, respectivamente.
A planta de processamento terá uma taxa média de produção de 4.736 t/ano de REO (Óxidos de Terras Raras) dentro dos concentrados. Quaisquer impurezas indesejadas, como alumínio e cálcio, que forem extraídas das argilas durante o processo de troca iônica são removidas de forma semelhante por meio de um processo de precipitação e, em seguida, recombinadas com as argilas lavadas antes de serem transportadas para uma instalação de armazenamento de empilhamento a seco durante os primeiros cinco anos de vida útil da mina. A partir do ano seis, as argilas lavadas serão recarregadas nas zonas de extração mineradas para iniciar o processo de fechamento da mina.
Um sistema de recuperação de água integrado à planta de processo limpa e regenera os licores de processo restantes para que possam ser reintroduzidos na alimentação. A água tratada é reutilizada em um circuito fechado para reduzir o consumo de água, evitando assim a liberação de água de processo no meio ambiente. Isso permite que a planta de processo opere com o mínimo de água de reposição e permite que os principais reagentes sejam regenerados e reutilizados dentro da planta de processo.
Segundo a Aclara, antes que as argilas estéreis saiam da planta de processo, elas são lavadas com água limpa em filtros-prensa de placas e quadros padrão. Isso removerá qualquer sulfato de amônio residual das argilas antes que sejam devolvidas a uma instalação de empilhamento a seco ou usadas para preencher as zonas de extração para serem usadas com segurança durante a revegetação. O projeto inclui a infraestrutura necessária para fornecer água de reposição para a planta de processamento, além de energia para o local e fornecer uma rede rodoviária para atender à operação, entre outros. A energia elétrica para a planta de processamento, oficina de caminhões, escritórios administrativos e outras instalações será fornecida pela concessionária nacional de energia por meio de linhas de transmissão de energia aéreas de uma subestação localizada a aproximadamente 90 km do local do projeto.